Construtivismo crítico
Os processos de comunicação são difíceis de apreender e seu estatuto epistemológico é duvidoso. Sendo interdisciplinares, os estudos sobre a comunicação acabaram sendo sequestrados pelas ciências sociais. Nas décadas que se seguiram à emergência da “ciência” da comunicação nos anos 30, ela acabou sendo considerada uma “disciplina” ao lado da sociologia, da ciência política e da antropologia. Acreditamos que esta avaliação seja incorreta e altamente enganadora. Pensamos que, ao lado das particularidades dos processos situados de comunicação, existem formas pragmáticas universais subjacentes aos comportamentos humanos e sociais que se expressam pelas formas de argumentação, da lógica natural dos sujeitos. Se aceitarmos que os conhecimentos universais e situados se mesclam nos processos e na produção da comunicação, o seu estatuto epistemológico, tomado como campo científico, deve ser necessariamente híbrido. Na verdade, nós a consideramos uma meta-disciplina, um mecanismo biológico transversal cujos fundamentos epistemológicos são prévios e formam as bases de todas as disciplinas. A comunicação atravessa todas as ciências - a biologia, a matemática, a física, a história, a sociologia, a ciência política, a psicologia, as ciências cognitivas, etc… - e todas as filosofias, sem nos esquecermos das artes e das trocas cotidianas que as pessoas fazem nas cozinhas, nos bares, nas ruas...
Em suma, a comunicação tem dimensões individuais e sociopolíticas. Ela diz respeito a pessoas e a comunidades, permitindo a troca de razões, de sentimentos e emoções, além de juízos morais e éticos. A comunicação é, essencialmente, ação moral e ética. Gostaríamos de estender esta visão de modo a concebê-la para além da ideia segundo a qual a comunicação deveria ser compreendida como campo de pesquisa científica porque ela é, fundamentalmente, uma prática de tomada de decisões cotidianas que engendra consequências. As mídias contemporâneas de massa, a Internet e outros meios de comunicação – ainda que menos óbvios – como o dinheiro e a administração política, são a tela na qual as práticas comunicativas são pintadas. Adotando uma postura crítica com respeito à ciência, às artes e ao vivido cotidiano, nós queremos assinalar a maneira pela qual os processos comunicativos são coconstruídos, em qual direção vão, quais valores genuínos internos (psicológicos) e externos (sociopolíticos) – morais e éticos - são por eles tocados. Queremos também possibilitar soluções significativas às questões, em um mundo que se transforma em alta velocidade por meio das tecnologias digitais.